Terceiro aniversário

Há três anos, este site era lançado. Nesse período, o blog recebeu 183 postagens de minha autoria, relacionadas a gêneros textuais diversificados.

O ano passado (2023) e o início deste ano foram repletos de boas realizações e bons frutos: a publicação de um novo livro, com eventos de lançamento em quatro feiras do livro, entre elas a de Porto Alegre; a participação em mais uma coletânea de contos; a participação como revisor em dois projetos editoriais; a atuação como colunista em dois sites especializados em Literatura e em uma revista literária; a atuação como editor em uma revista cultural; a participação em entrevistas; a atuação como ministrante de oficinas de criação literária.

Meu site foi criado para divulgação dessas novas experiências de vida como escritor e tem cumprido esse propósito.

A quantidade de seguidoras e seguidores ainda é pequena. Todavia, um resultado surpreendente, observável pelos recursos de métrica disponíveis, é o expressivo número de acesso aos textos por leitoras e leitores desconhecidos, por meio de sites de busca (principalmente, pelo Google). Nesse terceiro ano, o site foi acessado, predominantemente, por brasileiras e brasileiros, mas os dados estatísticos revelam, também, um número considerável de leitoras e leitores que vivem em Portugal e nos Estados Unidos.

Entre as postagens realizadas nesses três anos, um texto continua a atingir um alcance que me impressiona e me alegra muito em relação à quantidade de acessos e visualizações. O artigo “Diferença bíblica entre alma vivente e espírito vivificado”, originalmente publicado em suporte impresso, numa edição de janeiro de 2011 do jornal VS, e republicado, aqui no site, no dia 13 de abril de 2021, teve, nesse terceiro ano, 2.993 acessos com visualização (mais ainda que os 2.296 acessos com visualização do segundo ano e os 1.587 acessos com visualização do primeiro ano). Para marcar o primeiro aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2022. Já o artigo “A crítica social na poesia satírica de Bocage”, originalmente publicado em suporte digital, aqui no site, no dia 25 de outubro de 2021, teve, nesse terceiro ano, 369 acessos com visualização (menos do que os 394 acessos com visualização do segundo ano). Para marcar o segundo aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2023. Assim, dessa vez, para comemorar e marcar o terceiro aniversário, compartilharei o terceiro texto com maior número de acessos com visualização nesse terceiro ano (foram 191 acessos), o ensaio “Análise formal do poema ‘Ulisses’, de Fernando Pessoa”, o qual foi originalmente publicado aqui no site, no dia 3 de fevereiro de 2022.

A todas, todos e todes que dispensaram alguma atenção a textos que divulguei em meu site, meu sincero agradecimento.

Abraços! Saúde e paz!

Foto por Daria Obymaha em Pexels.com

Análise formal do poema “Ulisses”, de Fernando Pessoa

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo –

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá-la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

Ulisses é um dos poemas da coletânea Mensagem, publicada em 1934. O livro contém uma seleção de textos escritos desde 1913. Inicialmente, o título da coletânea seria Portugal. Contudo, “por não achar a sua obra à altura do nome da Pátria”, o autor decidiu por Mensagem.

Na obra, Fernando Pessoa expressa seu nacionalismo místico impregnado de sebastianismo ocultista. É um nacionalismo envolto em atmosfera de estranhamento, pleno de emoção, misticismo, elementos obscuros, saudosismo, idealizações e lirismo na sua evocação de feitos e personagens da História de Portugal.

Mensagem divide-se em três partes: Brasão, Mar português O encoberto. A primeira parte, Brasão, apresenta dezenove poemas, entre os quais se destaca Ulisses.

O poema segue uma estrutura tradicional. O tema abordado é a eternidade do mito, e a escolha dessa estrutura na construção poética reforça o aspecto da tradição como elemento constituinte da realidade.

O Modernismo aboliu a simetria, o que culminou na liberação rítmica. Porém, esse poema de Pessoa apresenta três estrofes com simétrica regularidade. As estrofes são quintetos ou quintilhas (estrofes com cinco versos). Todas elas seguem o mesmo esquema rítmico: quatro versos são heptassílabos (ou em redondilha maior), e o quinto e último verso é tetrassilábico. Novamente, um aspecto tradicional sobressai, pois a redondilha maior é um verso bem próprio da melódica poesia portuguesa. Note-se que, em todos os versos do poema, o acento recai sobre a última sílaba.

As rimas são externas, sons semelhantes repetem-se no final dos versos. São consoantes, pois apresentam semelhanças de consoantes e vogais. São alternadas ou cruzadas, na forma A/B/A/B/A. Algumas são agudas, rimam palavras oxítonas; outras são graves, rimam palavras paroxítonas. Quanto ao aspecto gramatical e fônico, as rimas são pobres.

No nível lexical, é perceptível a predominância de substantivos abstratos, indicadores de generalizações (mito, nada, tudo, Deus, lenda, realidade, vida), os quais contrastam com alguns substantivos concretos presentes na primeira estrofe, que remetem à materialidade da criação divina (sol, céus, corpo).

Há tensão entre verbos de estado, indicadores de estaticidade e perenidade (é, ser, existir, bastou), e verbos de ação, indicadores de dinamismo e transformação (abre, aportou, criou, escorre, entrar, fecundar, decorre). Na segunda estrofe, cujo sujeito subentendido pelo referenciador “Este” é o Ulisses mítico do título (associado, também, ao mito de dom Sebastião), há predominância de verbos no tempo passado, representação de distanciamento. Em contrapartida, a primeira e a terceira estrofes apresentam verbos no presente e no modo indicativo, os quais ressaltam os sentidos de proximidade e de realidade. Mais uma vez, a estrutura do poema estabelece relações sobre a presença mítica do passado no tempo presente da vida humana.

No aspecto sintático, é interessante o uso de enjambement ou encadeamento entre alguns versos. Surge o choque entre a sonoridade rítmica completa com a organização sintática e o sentido incompleto dos versos (a ligação com o verso seguinte completará o sentido). Essa tensão será reforçada ainda mais, no aspecto semântico, com o uso de belíssimas antíteses: nada – tudo,  sol – mito,  brilhante – mudo,  corpo morto – Deus, morto – vivo, não ser – existindo,  sem existir – bastou,   não ter vindo – foi vindo,  sem existir – criou,   lenda – realidade,  vida – morre,  metade – nada.

É nesse jogo de antíteses que se revela a profunda inspiração do poeta para abordar a essência do texto: a antítese entre mito e realidade transformada em uma relação de complementaridade na construção da História da humanidade.

Referência bibliográfica:

PESSOA, Fernando. Mensagem. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Foto por Pixabay em Pexels.com

Publicado por eleniltosaldanhadamasceno

Sou professor de Língua Portuguesa e de Literatura, escritor, editor, revisor e jornalista. Sou mestre em Letras/Estudos de Literatura, especialista em Literatura Brasileira, graduado em Letras e em Jornalismo. Tenho 57 anos, nasci e sempre vivi em São Leopoldo/RS.

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