Há quatro anos, este site era lançado. Nesse período, o blog recebeu 202 postagens de minha autoria, relacionadas a gêneros textuais diversificados.
O ano passado (2024) e o início deste ano foram repletos de boas realizações e bons frutos: a participação em uma antologia poética, como um dos vencedores de um concurso nacional de poemas, e em seu evento de lançamento e de premiação na Bienal Internacional do Livro de São Paulo; a participação como professor em curso de formação de escritores; a participação como revisor em mais um projeto editorial; a atuação como colunista em dois sites especializados em Literatura; a atuação como editor em uma revista cultural; a participação em entrevistas; a atuação como ministrante de oficinas de criação literária e a seleção para participação no circuito cultural “Nossa arte circula RS 2025” como escritor e ministrante de oficina de escrita de contos.
Meu site foi criado para divulgação dessas novas experiências de vida como escritor e tem cumprido esse propósito.
A quantidade de seguidoras e seguidores ainda é pequena. Todavia, um resultado surpreendente, observável pelos recursos de métrica disponíveis, é o expressivo número de acesso aos textos por leitoras e leitores desconhecidos, por meio de sites de busca (principalmente, pelo Google). Nesse quarto ano, o site foi acessado, predominantemente, por brasileiras e brasileiros, mas os dados estatísticos revelam, também, um número considerável de leitoras e leitores que vivem em Portugal e nos Estados Unidos.
Entre as postagens realizadas nesses quatro anos, um texto continua a atingir um alcance que me impressiona e me alegra muito em relação à quantidade de acessos e visualizações. O artigo “Diferença bíblica entre alma vivente e espírito vivificado”, originalmente publicado em suporte impresso, numa edição de janeiro de 2011 do jornal VS, e republicado, aqui no site, no dia 13 de abril de 2021, teve, nesse quarto ano, 1.753 acessos com visualização (menos do que os 2.993 acessos com visualização do terceiro ano e do que os 2.296 acessos com visualização do segundo ano, mais do que os 1.587 acessos com visualização do primeiro ano). Para marcar o primeiro aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2022. Já o artigo “A crítica social na poesia satírica de Bocage”, originalmente publicado em suporte digital, aqui no site, no dia 25 de outubro de 2021, teve, nesse quarto ano, 247 acessos com visualização (menos do que os 369 acessos com visualização do terceiro ano e do que os 394 acessos com visualização do segundo ano). Para marcar o segundo aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2023. Já o ensaio “Análise formal do poema ‘Ulisses’, de Fernando Pessoa”, originalmente publicado em suporte digital, aqui no site, no dia 3 de fevereiro de 2022, teve, nesse quarto ano, 130 acessos com visualização (menos do que os 191 acessos com visualização do terceiro ano). Para marcar o terceiro aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2024. Assim, dessa vez, para comemorar e marcar o quarto aniversário, compartilharei o quarto texto com maior número de acessos com visualização nesse quarto ano (foram 191 acessos), o artigo “Aproximações entre Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa”, o qual foi originalmente publicado aqui no site, no dia 2 de maio de 2022.
A todas, todos e todes que dispensaram alguma atenção a textos que divulguei em meu site, meu sincero agradecimento.
Abraços! Saúde e paz!

Aproximações entre Augusto dos Anjos e Cruz e Souza
No período de transição do século XIX para o século XX, a literatura brasileira sofreu influências dos movimentos de vanguarda da arte moderna europeia. No Brasil, uma classe média emergente assumia valores tipicamente burgueses, entre eles a valorização da intelectualidade. A maioria dos autores seguia essa tendência. Conforme o crítico literário José Guilherme Alves Merquior, “Quanto mais difícil o estilo, tanto mais valorizada a capacidade intelectual do escritor. Assim a estética pós-romântica, quer pela sofisticação da linguagem (parnasianismo, impressionismo, simbolismo), quer pela intelectualização do conteúdo (romance naturalista, cheio de pretensões ‘científicas’), exercia uma função heráldica, hierarquizante”. Influenciada por essa tendência e pelas estéticas artísticas europeias, a literatura nacional tornou-se mais universal e menos nacionalista.
No Brasil do início do século XX, havia dois estilos predominantes de criação poética: o Parnasianismo e o Simbolismo. Se na literatura europeia o Simbolismo foi o precursor das tendências que marcaram o início do século XX e deram origem à poesia moderna, no Brasil esse estilo de época desenvolveu-se à margem da instância hegemônica de influência e prestígio. A poesia parnasiana era a poesia “oficial”, o padrão estético literário. O Parnasianismo, com temática desapegada da realidade, contribuía para a assimilação de valores ideológicos dominantes em período histórico de conflitos e de transformações sociais. Abafada por essa ideologia dominante, a poesia simbolista era criticada como arte desequilibrada e deformada.
Todavia, o crítico literário e professor Afrânio Coutinho destaca que, “Por volta de 1910, tanto o Simbolismo como o Parnasianismo estavam estagnados, resultando daí uma fase de transição e sincretismo, durante a qual epígonos ainda se esforçavam por poetar segundo os cânones gastos e superados. Reinava ainda uma atmosfera de dúvida e hesitação. Certa inquietação, porém, fazia pressentir reformas radicais, que estavam como que no ar”. É nesse contexto que, segundo o crítico literário e professor Alfredo Bosi, “fora e acima desses vários grupos encontramos o mais original dos poetas brasileiros entre Cruz e Sousa e os modernistas: Augusto dos Anjos”.
A obra do poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos surgiu nesse contexto histórico-cultural híbrido e conturbado. Como foi exposto anteriormente, foi um período eclético na literatura brasileira. Não havia uma escola única, pois conviviam autores simbolistas, parnasianos, realistas, naturalistas e outros que, mais tarde, seriam reconhecidos como pré-modernistas. Bosi classifica esse período de transição histórica e literária como período de “sincretismo”.
Augusto dos Anjos é o poeta brasileiro mais importante dessa época. Coutinho destaca sua produção como “uma poesia cuja feição constituiu por muito tempo um óbice ao enquadramento nesta ou naquela tendência estética”.
Entretanto, há elementos comuns de aproximação entre as obras de Augusto dos Anjos e do poeta catarinense João da Cruz e Sousa, este o principal poeta simbolista brasileiro. Alguns poemas de Augusto dos Anjos são inspirados na obra do poeta francês Charles Pierre Baudelaire, precursor do Simbolismo. Mais particularmente, essa aproximação à estética simbolista possibilita analogias entre as produções desses dois importantes poetas brasileiros do início do século XX.
A poética de Cruz e Sousa apresenta uma evolução importante no emprego da subjetividade, alçada a uma posição mais universalizante, representativa do sofrimento e da angústia de toda a humanidade. A libertação desse sofrimento humano é representada através da anulação da matéria e da total libertação da espiritualidade consolidada através da morte.
Bosi destaca que Augusto dos Anjos manifesta, também, “uma angústia funda, letal, diante da fatalidade que arrasta toda carne para a decomposição da morte”. A morte, portanto, é tema comum e recorrente nos versos dos poetas. Contudo, para o poeta simbolista, a morte representa a anulação da matéria para a libertação da espiritualidade. Já para Augusto dos Anjos, conforme Bosi, ao contrário, “as forças da matéria, que pulsam em todos os seres e em particular no homem, conduzem ao Mal e ao Nada, através de uma destruição implacável”.
O tema “morte”, nos versos dos dois poetas, pode ser esquematizado do seguinte modo.
| Morte – Cruz e Sousa | Morte – Augusto dos Anjos |
| Anulação da matéria | Ação das forças da matéria |
| Libertação | Destruição |
| Vitória do espírito | Vitória da morte |
Assim, ainda segundo Bosi, através do tema “aproximam-se o blasfemo Augusto dos Anjos e o crente Cruz e Sousa”.
A eterna angústia humana e sua nunca libertação são expressas, por exemplo, pelo eu-lírico de Eterna mágoa nas duas últimas estrofes desse soneto de Augusto dos Anjos.
“Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim não cabe
Na sua vida, e que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!”
Além desses aspectos temáticos (a morte e a angústia do “eu” diante de sua existência), os poetas aproximam-se linguisticamente, pelo emprego de léxico rebuscado, com vocábulos criteriosamente selecionados e pouco usuais, e pela construção de versos sonoros.
Estruturalmente, seus poemas aproximam-se pela valorização do soneto, pela preferência por quartetos com versos decassílabos cadenciados, pelo ritmo e pelo usual emprego de rimas ricas.
