Já fiz uma série de boas viagens turísticas a outros estados, países, continentes. Também já fiz viagens profissionais como professor e pesquisador (Phoenix, nos Estados Unidos) e como revisor editorial (Salvador, na Bahia). A turismo ou a trabalho, em nenhuma delas havia pensado em escrever crônicas de viagem. Porém, desta vez, como era uma viagem profissional como escritor, fui decidido a escrever, a registrar cada dia dessa primeira passagem como escritor por São Paulo.
Foi a primeira viagem nessa condição, uma vez que nas outras possibilidades anteriores, a Paraty (no Rio de Janeiro), como finalista em concurso nacional de contos, em 2021, e a Fortaleza (no Ceará), como quarto colocado em concurso nacional de poemas, em 2023, não pude viajar em função de meus compromissos profissionais como professor. Agora, a viagem ocorreu para participar, como um dos vencedores de um concurso nacional de poemas, da cerimônia de lançamento da antologia poética dessa premiação, a qual ocorreu na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. A partir de agora, decidi priorizar e valorizar tais experiências e me empenhar para participar de eventos e viagens assim, porque trazem muita satisfação e alegria. Espero que haja outras.
As crônicas de viagem sobre essa primeira passagem como escritor por São Paulo foram compartilhadas, diariamente, em minha página pessoal no Facebook, e alcançaram um bom engajamento. Agradeço a todas e a todos que acompanharam esses textos e me incentivaram com palavras de apoio, apreço e reconhecimento.
O primeiro dia – 5 de setembro
Neste primeiro dia como escritor em São Paulo, foi o professor quem se emocionou.
Ao visitar o acervo do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e me deparar com obras de Anita Malfatti, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Lasar Segall, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, lembrei das aulas em que me propus a apresentar não só a Literatura modernista, mas também a Pintura modernista brasileira, para minhas turmas de terceira série do Ensino Médio. Particularmente, a série “Retirantes”, de Portinari, teve atenção especial para estabelecer relações com os grandes romancistas nordestinos da geração de 30, principalmente com o romance “Vidas secas”, de Graciliano Ramos. Por isso, mesmo ainda diante de obras de Auguste Renoir, Claude Monet, Pablo Picasso, Paul Cézanne, Rafael Sanzio, Vincent van Gogh, entre outros, foi “Criança morta”, de Portinari, o encontro mais emocionante do dia.
Toda a licença é dada pelo escritor para que o professor seja o visitante que mais curta essa temporada, porque o professor merece! E se, um dia, alguma aluna ou algum aluno tiver a oportunidade e o interesse de visitar o MASP, se deparar com essas obras, lembrar do velho professor e, principalmente, sentir um pouco da emoção que senti hoje, estarei, mais uma vez, muito feliz!

O segundo dia – 6 de setembro
No segundo dia como escritor em São Paulo, foi o professor quem continuou em ação.
Ao visitar o Museu da Língua Portuguesa, a Pinacoteca de São Paulo e o Theatro Municipal de São Paulo, foi o professor de Língua Portuguesa que curtiu a interação com a diversidade, a expressividade e a potencialidade linguística e foi o professor de Literatura que se emocionou, mais uma vez, com a presença “viva” dos artistas modernistas nos espaços culturais e, também, por estar no Theatro Municipal, local histórico da realização da Semana de Arte Moderna de 22, onde os artistas e escritores modernistas foram evocados em minha imaginação.
Não sei se fica nítido que minha apreciação, neste momento, não é só como turista e como apreciador de cultura, mas principalmente como um professor que vivencia experiências de descobertas a partir de uma formação teórica a qual se enriquece e se completa, agora, a partir de uma fruição mais atenta e qualificada.
Na Pinacoteca, as obras que mais me emocionaram foram “Mestiço”, de Candido Portinari, e “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral. Mais uma vez, senti alegria por haver apresentado a produção desses artistas a alunas e alunos.
O que é maravilhoso, nessa temporada em São Paulo, é estar em locais nos quais devo estar.

O terceiro dia – 7 de setembro
No terceiro dia como escritor em São Paulo, agora sim, foi o escritor quem curtiu e se emocionou.
A participação no evento de premiação e de lançamento da antologia poética do 6° Prêmio Literário Afeigraf 2024 foi ótima. O estande da Editora Scortecci ficou pequeno para o público presente nas quase duas horas de duração do evento, no qual também foi realizado um sarau literário. Assim, pela primeira vez, meu poema, “De conchinha”, foi declamado publicamente (e foi muito elogiado)*. Além da interação com o público leitor, tive a satisfação de conhecer cinco autoras também premiadas, as quais são da Bahia, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte e de São Paulo, além de conhecer o editor da Editora Scortecci, promotora do prêmio. Registros fotográficos dessa participação podem ser encontrados na seção “Eventos”, aqui neste site.
Fiquei impressionado com a quantidade de obras, de expositores e de público na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo 2024, o que confirma que o livro permanece um produto cultural fascinante.
* Mais adiante, publicarei o poema aqui no site.

O quarto dia – 8 de setembro
No quarto dia como escritor em São Paulo, foi o homem Elenilto, ele simplesmente, quem se emocionou.
Circulei mais pela cidade, como um caminhante entre tantas pessoas. O hotel em que estou hospedado fica bem próximo à Avenida Paulista. Na manhã de sol, a movimentada avenida, mas também a Casa das Rosas e o Parque Trianon, foram os locais de circulação.
No início da tarde, o passeio foi na Vila Madalena, mais especificamente no Beco do Batman, um reduto de resistência da arquitetura e da arte urbana, com suas feirinhas culturais alternativas e seus belos murais com grafites. Já na chegada, deparei-me com uma arte de Eduardo Kobra, a qual me emocionou, porque retrata um peixe. O peixe é um símbolo com o qual me identifico muito, por amar o Pescador Jesus. Não é à toa que em meu último livro, “Curta ficção”, a arte da capa (da querida e talentosa Lorena Toniolo), a epígrafe e os dois primeiros contos (“Peixe vivo” e “Isto é meu corpo, isto é meu sangue”) fazem referência ao peixe como símbolo.
Porém, foi ao final da tarde, na Alameda Casa Branca (onde fica o hotel em que estou), que ocorreu o momento que completou, definitivamente, minha relação com São Paulo nessa passagem por aqui como escritor. Foi nesse último momento que o homem Elenilto se emocionou pela identificação com aquilo que sente e pensa há muitos anos, desde a juventude. A menos de quinhentos metros do hotel, há um marco de pedra desgastado e meio que abandonado que indica o local em que o revolucionário Carlos Marighella foi assassinado, à queima-roupa, pela ditadura militar. Estar ali, em honra a Marighella e em adoração a Deus, me deixou arrepiado de emoção!
Obrigado, Senhor, por preparar esse tempo e essas experiências em São Paulo! Deus é muito bom para mim! E Marighella vive!
