O cristianismo apresenta a concepção da triunidade de Deus no Pai, no Filho e no Espírito Santo, que constituem o Deus verdadeiro. A autorrealização desse Deus triúno concretiza-se, segundo o pensamento cristão, na perfeita comunhão entre Ele e a criatura humana criada por Deus, a qual também manifesta uma triunidade em corpo, alma (em hebraico, nepesh; em grego, psyche; em latim, anima) e espírito (em hebraico, ruach; em grego, pneuma; em latim, spiritus).
O conceito de triunidade humana é lembrado na oração de Paulo: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Tessalonicenses 5.23).
A narrativa mítico-fundadora em Gênesis 2.7 declara: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. O espírito, no conceito bíblico, é o fôlego ou sopro de vida que Deus dá a cada criatura humana. É a partir do espírito de vida que vem de Deus que o ser humano se torna alma vivente. Logo, espírito e alma diferem entre si. O espírito é o dom da vida que procede de Deus.
A alma é a singularidade ou particularidade de cada criatura humana num conjunto de pensamentos, vontades e emoções. No ciclo da vida natural, tudo o que é vivente, em algum dia, morre. Logo, a alma vivente também morre. A doutrina da imortalidade da alma é um conceito oriundo da filosofia platônica, e daí vem a crença de uma alma humana ou de uma psyche (alma, em grego) individual que se imortalize.
Assim, as ideias de espírito e de alma têm sido confundidas. Crenças propagam a imortalidade da alma, que denominam de espírito. Nega-se o entendimento de que a morte da criatura humana também é a morte da alma vivente e imagina-se que a personalidade individual ou alma do indivíduo permaneça viva, com pensamentos, vontades e emoções, e chama-se isso de espírito. Há uma tremenda confusão de conceitos que distorcem as palavras bíblicas para corresponderem aos anseios e à angústia das almas humanas ante sua inevitável finitude.
Ora, segundo a Bíblia, Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade (João 4.24). Quando nosso espírito se torna morada e templo do Espírito Santo de Deus (I Coríntios 3.16), esse espírito é vivificado, ou seja, recebe nova vida, nascemos de novo (João 3.3), tornamo-nos novas criaturas (II Coríntios 5.17), somos um com o Pai em espírito (João 17.21), e o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8.16). Na morte, ao rendermos ou entregarmos esse espírito a Deus, o mesmo se encontra intimamente ligado ao Espírito de Deus Jesus, o Espírito da ressurreição e da vida (João 11.25).
E selados com o Espírito Santo da promessa (Efésios 1.13), nosso espírito está ligado à fonte eterna da vida que é o próprio Deus. Ao contrário, sem que o Espírito de Deus viva no espírito de vida humano, esse mesmo espírito estará mortificado. Rendido ao Pai na morte, será apenas aquilo que foi o espírito de vida de uma alma vivente que agora já não vive mais.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Diferença bíblica entre alma vivente e espírito vivificado. Jornal VS, São Leopoldo, p. 2, 13 jan. 2011.
