Há dois anos, este site era lançado. Nesse segundo aniversário, comemoro os objetivos atingidos no projeto: escrever e publicar textos, com qualidade e regularidade, para serem lidos por quem se interessar por eles, no presente e/ou no futuro. Em dois anos, o blog recebeu 137 postagens de minha autoria, relacionadas a gêneros textuais diversificados: artigos acadêmicos, artigos de opinião, comentários em vídeo, contação de história, contos, crônicas, dissertação de mestrado, entrevistas, ensaios e estudos críticos literários, nota biográfica, poema, reportagens, resenhas, textos de apresentação.
O ano passado (2022) e o início deste ano foram repletos de boas realizações e bons frutos: a conclusão do curso de formação de escritores, a formação em oficina de revisão textual, preparação de originais e leitura crítica, a indicação de meu primeiro livro individual a finalista do Prêmio AGES 2022, a participação em mais três coletâneas de contos, a participação em mesa literária na Feira do Livro de minha cidade, a participação em entrevistas e palestras, a atuação como colunista em site especializado em Literatura, a primeira participação como revisor em projeto editorial e tudo o que foi produzido para este site. Enfim, o escritor e revisor em formação afirmou-se como escritor e revisor em ação.
Meu site foi criado para divulgação dessas novas experiências de vida como escritor e tem cumprido esse propósito.
A quantidade de seguidoras e seguidores ainda é pequena. Todavia, um resultado surpreendente, observável pelos recursos de métrica disponíveis, é o expressivo número de acesso aos textos por leitoras e leitores desconhecidos, através de sites de busca (principalmente, pelo Google), do Facebook e do próprio WordPress. Nesse segundo ano, o site foi acessado, predominantemente, por brasileiras e brasileiros, mas os dados estatísticos revelam, também, um número considerável de leitoras e leitores que vivem em Portugal e nos Estados Unidos.
Entre as postagens realizadas nesses dois anos, um texto continua a atingir um alcance que me impressiona e me alegra muito em relação à quantidade de acessos e visualizações. Nesse segundo ano, o artigo “Diferença bíblica entre alma vivente e espírito vivificado”, originalmente publicado em suporte impresso, numa edição de janeiro de 2011 do jornal VS, e republicado, aqui no site, no dia 13 de abril de 2021, teve, até ontem, 2.296 acessos com visualização (mais ainda do que os 1.587 acessos com visualização do primeiro ano). Para marcar o primeiro aniversário, compartilhei esse texto em 3 de abril de 2022. Assim, dessa vez, para comemorar e marcar o segundo aniversário, compartilharei o segundo texto com maior número de acessos com visualização nesse segundo ano (foram 394 acessos), o artigo “A crítica social na poesia satírica de Bocage”, o qual foi originalmente e exclusivamente publicado aqui no site, no dia 25 de outubro de 2021.
A todas, todos e todes que dispensaram alguma atenção a textos que divulguei em meu site, meu sincero agradecimento.
E vamos em frente!
Abraços! Saúde e paz!

A crítica social na poesia satírica de Bocage
O escritor português Manuel Maria L’Hedoux Barbosa du Bocage, expoente da poesia satírica no contexto histórico-cultural do final do século XVIII, era filho de advogado, parente da poetisa francesa Madame du Bocage e cresceu num ambiente familiar impregnado de cultura. Homem brilhante, viveu numa sociedade retrógrada que encarnava os valores impostos pela tradição católica e por um regime político autoritário e opressor centralizado na figura do Marquês de Pombal.
A Europa sofria profundas transformações, enquanto Portugal parecia ser um país perdido no mapa e apegado ao passado. A Contra-Reforma e o poder da Inquisição ainda se faziam presentes na Península Ibérica, e Pombal posicionava-se radicalmente contra quaisquer das ideias revolucionárias que pululavam no continente. Naturalmente, Bocage era perseguido pelos poderes vigentes, pois sua poesia crítica, satírica e erótica era considerada uma ameaça aos interesses do Estado e aos valores da Igreja Católica. Gênio dos versos e sagaz crítico social, encontrava alguns adeptos e enfrentava muitos desafetos.
Bocage é um dos maiores poetas da Língua Portuguesa em todos os tempos. Sua obra é conhecida pela contundente sátira da sociedade portuguesa de sua época e, também, pelo estigma de pornográfica aos olhos de conservadores e de leigos em Literatura.
Impossível seria deixar de reconhecer que o poeta português extrapolava muito o então aceitável; conquanto escandalizasse, também maravilhava com seus poemas satíricos e eróticos. Todavia, a obra de Bocage é mais do que isso, pois apresenta valor artístico universal e se estabelece no cânone como ícone do Arcadismo do século XVIII. Suas poesias amorosas e devotas são modelares, e suas poesias satíricas lançam um minucioso olhar sobre os valores morais e sociais da época, ao revelarem hipocrisias e questionarem o status quo sociocultural, político e econômico.
Bocage pertencia a essa elite que criticava, a qual vivia em uma Europa varrida por transformações. O poeta português posicionava-se na vanguarda de movimentos que questionavam valores, promoviam desequilíbrios e impactavam a realidade. Seus versos satíricos tinham a força de flechas certeiras que atingiam muitos alvos, pois eram lançadas para todos os lados. Algumas vezes, eram puro veneno, mas se sustentavam, também, pela força estética e artística.
Seus poemas satíricos confrontam vários costumes e grupos sociais. O poeta lusitano revida a desafetos literários, menospreza as obras de seus detratores e os desqualifica. Bocage demonstra não aceitar a presença de estrangeiros a ocuparem posições de destaque na sociedade portuguesa. Também através de seus versos, afirma que a nobreza e os religiosos católicos são tipos que não fazem falta, dispensa suas pretensas e pretensiosas demonstrações de caridade e expõe que seus sentimentos nobres e espirituais são máscaras de hipocrisia. A estrutura da família patriarcal, ilustrada pela fidelidade das senhoras casadas, é desmistificada pelo poeta em versos em que o eu-lírico declara que só se relaciona sexualmente com esposas adúlteras.
Bocage, apreciador da vida boêmia, era uma figura marcante e, também, intransigente. Com forte espírito crítico, seus versos evocavam a memória dos grandes nomes do passado para expressar sua insatisfação contra a mediocridade de seus contemporâneos e denunciar a decadência da sociedade portuguesa que, há poucos séculos, constituíra o maior império do mundo.
Aliado aos princípios ideológicos da Revolução Francesa, expôs sua convicção de que a Igreja Católica, em Portugal, merecia o mesmo destino que sofrera na França. Em oposição às ideologias política e religiosa dominantes em Portugal, denunciou o despotismo de ambas e louvou a liberdade. Mais do que homem de coragem, Bocage foi um poeta genial e um homem à frente do seu tempo, que defendeu e assumiu a liberdade através de suas ideias e do seu fazer poético.
Muito bom o texto, pra variar. Não conheço a obra do Bocage. Mas me lembrei de outro famoso, Charles Bukowiski.
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Muito obrigado pela apreciação e pelo apoio constante, amigo! Sim, os dois autores “causaram” em suas respectivas épocas e merecem ser reconhecidos como dois grandes poetas. Um abraço, José!
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