Uma relação de identificação e de admiração por Clodomir Vianna Moog

Pela minha trajetória de vida, penso que se torna mais importante e apropriado escrever um texto sobre o pensador que dá nome a nossa biblioteca do que sobre minha própria relação como frequentador desse importante espaço cultural de nossa cidade. Identifico-me com Clodomir Vianna Moog por algumas razões. Ambos nascemos em São Leopoldo, estudamos na Escola Visconde de São Leopoldo, atuamos no serviço público, tornamo-nos estudiosos de Machado de Assis e ensaístas sobre crítica e teoria literária, além de escritores de ficção. Por isso, me sinto honrado por poder ressaltar a obra e a vida desse conterrâneo que é um dos grandes nomes da historiografia literária brasileira.

Vianna Moog, além de advogado, crítico literário e escritor, foi importante ativista político. Na revolução de 1930, apoiou o enfrentamento às oligarquias rurais no levante que levou Getúlio Vargas ao poder. Confiou no projeto antielitista do líder gaúcho e em suas propostas de mudanças nas áreas da Saúde, da Educação e das leis trabalhistas. Decepcionou-se posteriormente, pois as reformas do Estado ocorreram de forma autoritária e Vargas não organizou as prometidas eleições diretas.

Já em 1932, porque havia se posicionado criticamente contra o autoritarismo governamental, Vianna Moog, que era funcionário público, foi punido com sucessivas transferências: para o Piauí, o Amazonas, o Mato Grosso e, por fim, o retorno ao Rio Grande do Sul, em 1934. Essa punição transformou-se em benefício pessoal, pois tornou-se um profundo conhecedor do Brasil. Nesse período, publicou sua primeira grande obra, o ensaio Heróis da decadência, no qual analisou e estabeleceu interessantes relações entre as obras de Petrônio, Cervantes e Machado de Assis.

Em 1938, publicou o romance Um rio imita o Reno, obra que fez muito sucesso à época. A história narrada passa-se em Blumenthall (a São Leopoldo da sua infância) e apresenta o relacionamento amoroso entre um engenheiro amazonense e uma imigrante alemã. A narrativa é uma espécie de romance de tese, pois apresenta discussões sobre as questões do racismo e do nazismo. No ano seguinte, iniciou a Segunda Grande Guerra Mundial, e o intelectual leopoldense manifestou-se publicamente contra o nazismo, o racismo e o totalitarismo.

Em 1942, publicou aquela que considero sua maior contribuição para a historiografia literária brasileira, a obra ensaística Uma interpretação da literatura brasileira. Para o crítico e escritor leopoldense, a Literatura é a expressão escrita do gênio de um povo. A Literatura revela o genius loci, o gênio local, ou seja, o temperamento, o comportamento e o modo de pensar de um povo. Seu estudo propôs uma visão de largo espectro, em direção a uma análise que extrapolasse as delimitações rígidas de conceito nacionalista. Considerou que as sínteses e sistematizações utilizadas pela historiografia crítica literária eram questionáveis, por desconsiderarem peculiaridades ou enquadrá-las em modelos generalizados que, em suma, eram apenas simplificações desprovidas de qualquer autoridade ou reconhecimento como verdades absolutas.

Para Vianna Moog, não havia uma Literatura brasileira definida e unitária. Seu estudo sobre a Literatura brasileira abriu mão dos parâmetros cronológicos e de unidade identitária nacional. O autor organizou esse estudo historiográfico literário de acordo com extensões geográficas que representavam diferentes núcleos culturais justapostos, lado a lado. Esses núcleos culturais não correspondiam a áreas delimitadas por fronteiras políticas oficiais, mas a regiões que representavam unidades geográficas, climáticas e formas similares de produção. Foram sete as ilhas de cultura ou núcleos culturais propostos por Moog: Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Metrópole (Rio de Janeiro).

Em 1945, Clodomir Vianna Moog foi empossado na Academia Brasileira de Letras, à qual pertenceu até o ano de seu falecimento, 1988.

Nossa cidade aproxima-se dos festejos do bicentenário da imigração alemã. Espero que, nessas comemorações, esse leopoldense que se tornou um grande nome da Literatura brasileira seja muito homenageado e sua obra se torne mais conhecida.

* Artigo publicado, originalmente, na série Histórias com a Vianna Moog, nas páginas do Facebook e do Instagram da Biblioteca Pública Municipal de São Leopoldo, em 11 de maio de 2023.

DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Uma relação de identificação e de admiração por Clodomir Vianna Moog. In BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL VIANNA MOOG. Histórias com a Vianna Moog. São Leopoldo, 2023.

Publicado por eleniltosaldanhadamasceno

Sou professor de Língua Portuguesa e de Literatura, jornalista e iniciei, em 2020, minhas atividades como escritor em formação e em ação. Sou mestre em Letras/Estudos de Literatura, especialista em Literatura Brasileira, graduado em Letras e em Jornalismo. Tenho 54 anos, nasci e sempre vivi em São Leopoldo/RS.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: