Março de 1980. O guri de doze anos, que estudara até a quinta série no Rui Barbosa, no Bairro Vicentina, agora era aluno no Visconde. A turma 63 ocupava a única sala de aula do pavimento térreo do tradicional prédio localizado em plena Rua Grande e era formada pelos novos estudantes, egressos de escolas de bairros e vilas distantes.
Na primeira aula de Língua Portuguesa, a professora solicitou que fizéssemos uma redação com tema livre. Escrevi sobre minhas expectativas em relação ao novo ano letivo e ao ingresso na escola que me desafiava a ultrapassar “fronteiras”. No entanto, além disso, apresentei, também, minhas impressões sobre assuntos então recentes e novos que traziam descobertas. Desde o final do ano anterior, pudera acompanhar, pela televisão, o alvoroço causado pelo retorno ao país do exilado Leonel Brizola e, depois, as discussões entre Brizola e Ivete Vargas sobre a refundação do PTB e o legado de Getúlio Vargas. Era o período inicial da abertura política. Eu sabia que existiam partidos políticos, Arena e MDB, mas quase nada sabia sobre a vigência de uma ditadura militar. Naquela época, a maioria dos pais não falava sobre Política com seus filhos. Apesar disso, minha redação apresentava, também, minhas expectativas de que o Brasil, no futuro, se tornasse um país com justiça, igualdade e liberdade.
Na semana seguinte, ao devolver as redações, a professora entregou meu texto com uma estrelinha e disse baixinho para mim: “Um dia, tu vais ser o presidente do Brasil”.
Faz quase 41 anos, mas só agora a memória do texto do passado dá origem à crônica que você lê agora.
Penso no atual presidente.
Quando a professora me disse aquela frase, eu acreditei que era um elogio!
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Acreditei que era um elogio. Jornal VS, São Leopoldo, p. 16, 15 jan. 2021.
