Recente pesquisa sobre o indicador de analfabetismo funcional no Brasil apontou que 29% da população não conseguem interpretar adequadamente o que leem. Ressalte-se que as dificuldades de quem lê também estão relacionadas às dificuldades de quem escreve. Três importantes aspectos sobre a interpretação ilustram essa questão: a ambiguidade, a pressuposição e o subentendido.
A ambiguidade consiste na possibilidade de uma frase apresentar duplicidade de sentido, permitir duas ou mais interpretações diferentes. É comum ocorrer em função do desconhecimento do contexto da enunciação. Por exemplo, na frase “Mário não consegue passar perto de uma tabacaria”, ocorre essa ambiguidade situacional, pois o enunciado pode ser desdobrado em três interpretações: Mário fuma e não consegue passar perto de uma tabacaria sem entrar e comprar cigarros; ou Mário tem muita aversão ao fumo e não consegue passar perto de uma tabacaria; ou Mário encontra algum obstáculo que o impede de se aproximar de uma tabacaria.
A pressuposição é uma relação de sentido entre frases a qual compreende o compartilhamento de uma ideia cuja veracidade é aceita, embora não conste em forma de conteúdo declarado, expresso. Por exemplo, a partir da frase “Mário parou de fumar”, é possível inferir ou pressupor que Mário fumava e, também, que Mário não fuma mais.
A distinção entre pressuposição e subentendido é sutil. O subentendido é uma ideia implícita, uma inferência ou interpretação de sentido que desponta em uma enunciação, sem afirmação explícita. Por exemplo, a partir da frase “Mário parou de fumar, mas o exame indicou que fez isso tarde demais”, subentende-se que Mário está com alguma doença irreversível causada pelo fumo.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Aspectos sobre a interpretação. Jornal VS, São Leopoldo, p. 9, 22 nov. 2021.
