Há muitas pessoas caridosas, não há tantas voluntárias. Há ações de voluntariado que, para se efetivarem, dependem de atos de caridade. Há atos de caridade que, para se efetivarem, dependem de ações de voluntariado.
No ato de caridade, normalmente motivado por sentimentos religiosos, doamos coisas adquiridas para consumo (falemos a verdade; muitas vezes, doamos o que não mais necessitamos). Na ação de voluntariado, mais frequentemente motivada por sentimentos humanitários, doamos nosso tempo, nossa presença, parte da nossa vida.
No ato de caridade, pouco damos e pouco recebemos, pois pouco interagimos (ganhamos a sensação de nos sentirmos bem por fazer o bem). Na ação de voluntariado, pouco damos e muito recebemos, pois convivemos, participamos, aprendemos, nos transformamos.
Eduardo Galeano declarou que “La caridad es humillante porque se ejerce verticalmente y desde arriba; la solidaridad es horizontal y implica respeto mutuo”. Concordo com ele, pois ser voluntário exige muito mais do que ser caridoso. A solidariedade horizontaliza e iguala as relações, coloca-nos ao lado e junto dos outros.
Nossas palavras, sem ações, não transformarão o mundo. Nossos atos de caridade colaboram, mas não transformarão o mundo. Nossa solidariedade transformará algumas vidas, vidas que também nos transformarão, e isso é uma pequena transformação no mundo.
Os tempos estão cada vez mais difíceis, duros e frios. Não é por falta de religiosidade que chegamos a esse ponto, é por falta de humanidade. Sejamos solidários, sejamos voluntários, sejamos um entre os outros, com os outros e como os outros.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Caridade religiosa ou ética solidária. Jornal VS, São Leopoldo, p. 11, 9 nov. 2018.
