Essas palavras carregam a força de um contexto que pode unir ou separar indivíduos, que delimita visões de mundo. Mesmo que sejam aproximadas, elas não se completam. O uso do vocábulo “solidariedade”, que representa fortemente uma noção de associação coletiva e humana, foi mais recorrente em tempos recentes. Já o vocábulo “empreendedorismo”, mais comum no tempo atual, não tem essa mesma representação; ao contrário, tem sido mais relacionado à esfera individual e ao universo tecnológico.
Para ilustrar essa contraposição, por exemplo, em um tempo bem recente, pensou-se em mudar o mundo através de uma proposta denominada “Economia solidária”. Já nestes tempos mais liberais, o vocábulo “empreendedorismo” se sobrepõe como um imperativo. É por isso, por exemplo, que feiras de economia solidária são renomeadas como feiras de empreendedorismo. Por que palavras e expressões precisam ser substituídas, muitas vezes até banidas?
As palavras, quando se unem em discursos, são ativas. Não existe neutralidade quando se associam. Particularmente, penso que a palavra “solidariedade” é mais magnânima e essencial do que a palavra “empreendedorismo”, embora não deixe de reconhecer o valor e a importância do empreender. Porém, questiono e lamento que se interdite ou se rechace uma palavra tão bonita como “solidariedade”, pois sem ela a vida perde sua poesia, e nós perdemos o sentimento de humanidade.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Empreendedorismo ou solidariedade. Jornal VS, São Leopoldo, p. 11, 18 dez. 2018.
