Reflexões finais
Há cem anos, nascia o educador e filósofo Paulo Freire; e há vinte e cinco anos, era publicada “Pedagogia da autonomia”, uma de suas principais obras, a qual aponta a importância do construtivismo para recriação de práticas educacionais. Ao indicar a curiosidade e o sentimento humano de inconclusão como propulsores da busca por aprendizagem, Freire define a educabilidade como característica imanente aos seres humanos. Essa busca, que já passou por tantos caminhos tortuosos, também alimenta esperança em uma vida mais feliz, em um mundo melhor.
Segundo o pensador, a construção de conhecimento é um processo cognitivo, biológico e psicológico, permeado por aspectos sociointeracionais, históricos e culturais, pelo qual se desenvolve a formação de saberes e, também, de criticidade, autonomia e ética mobilizadoras de ações de sujeitos, de transformações na realidade sociocultural e de intervenções na própria História.
A obra também analisa profundas desigualdades sociais. Aí estão o grande mérito e o grande desafio de “Pedagogia da autonomia”, quando nos motiva a analisarmos a realidade injusta imposta pelos poderes dominantes do mundo e cujos efeitos, tão cruéis, a sociedade brasileira sofre há muitos anos e em grau cada vez maior. A ideologia liberal hegemônica, em sua defesa obsessiva de interesses do mercado, do capital financeiro internacional e dos detentores de poder econômico e político no mundo globalizado, tem exercido tirania sobre massas de excluídos, populações empobrecidas condicionadas à aceitação de privações e injustiças sofridas como situações inevitáveis, através de alienação e submissão ao imperativo das sociedades competitivas e egoístas nas quais (sobre)vivemos de que os “incompetentes” são os culpados por seus fracassos.
Aqui, no Brasil, conhecemos muito bem a subserviência de nossos governos, atrelados a esses discursos que transformam o mercado em deus e o povo em detalhe. Não é à toa que o pensamento de Paulo Freire seja tão combatido no atual contexto de nosso país, mas também seja fonte de inspiração e de resistência, uma vez que suas ideias lançam e renovam grandes desafios para os atuais e futuros professores: alimentar a esperança, promover a emancipação humana, redirecionar a História, transformar o mundo.
Os desafios estão lançados, o trabalho está em andamento e, um dia, os frutos surgirão, com a graça de Deus e a dedicação de pessoas corajosas que permanecerão a acreditar na solidariedade e na justiça como condições sociais a serem construídas e conquistadas.
Referência bibliográfica
FREIRE, Paulo Reglus Neves. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
* Em atuação como professor alfabetizador voluntário no projeto de educação social OLA, Oficina de Letramento e Alfabetização de pessoas adultas e idosas, no Centro de Referência de Assistência Social Território de Paz, em Esteio / RS.
