A Linguística é a ciência que estuda a língua e seus usos. O conhecimento da língua não se restringe às regras padronizadas pela Gramática tradicional. Conforme Mário Perini, as convenções sociais exigem que escrevamos em um padrão de língua (o Português na norma culta socialmente privilegiada), embora falemos, informal e cotidianamente, fora desse padrão.
A Linguística reconhece tanto a forma padrão quanto as não padronizadas, ao passo que a Gramática normativa estabelece juízos de valor arbitrários e excludentes, os quais classificam a maioria dos usuários da língua como incompetentes linguísticos. Segundo Marcos Bagno, o preconceito linguístico resulta de a Gramática tradicional dedicar-se, exclusivamente e por séculos, à língua escrita: “criada para servir de régua/regra para a língua escrita literária, ela passou a ser usada para medir e regular/regrar todo e qualquer uso linguístico”.
O preconceito linguístico não é mais aceitável. A determinação discriminatória e autoritária de um único padrão correto foi derrubada pela Linguística, que considera a língua um instrumento de coesão social, e não de exclusão.
As variantes linguísticas e a língua falada merecem respeito e atenção. Esse respeito recupera a autoestima de grande parcela da população brasileira historicamente discriminada por não dominar nem usar as regras da norma culta. O preconceito linguístico impôs a pecha de incompetência a essa camada da população vitimada, na realidade, pela incompetência e má vontade da elite que assim a estigmatiza, elite que ocupa espaços privilegiados de poder em proveito próprio, desconsidera necessidades básicas da maioria do povo, desvaloriza o ensino público e explora as classes produtivas que, por fim, rotula como incompetentes.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Língua e preconceito. Jornal VS, São Leopoldo, p. 11, 25 ago. 2021.
