O poeta barroco baiano Gregório de Matos Guerra é precursor e expoente da poesia satírica brasileira. Seus poemas contêm críticas corrosivas aos valores e estamentos sociais do Brasil colonial e recorrem às antíteses para retratar as contradições da Salvador do século XVII.
O mercantilismo internacional promovia a criação de mercados consumidores de artigos supérfluos e a espoliação de riquezas naturais das colônias fornecedoras de matérias-primas e produtos agrícolas. Novas relações de poder estabeleciam-se entre grupos sociais, entre colônia e metrópole e entre Portugal e o resto do mundo. Gregório de Matos pertencia à elite local que acompanhava, insatisfeita, as mudanças advindas da exploração econômica da colônia pela metrópole. O comércio de manufaturas passava a ocupar espaços antes dominados pelas atividades agrícolas, e essa elite fidalga era suplantada por um novo grupo emergente, uma incipiente burguesia mercantilista pré-capitalista representada por mascates, caixeiros-viajantes e atravessadores que enriqueciam rapidamente, em contraposição ao declínio econômico dos proprietários rurais.
A aristocracia baiana, que havia enriquecido com a produção de açúcar, sentia a concorrência da produção nas Antilhas. Os engenhos perdiam lucratividade, e a cultura do colonizador, assimilada pelos colonizados, promovia a valorização dos produtos importados e a desvalorização do que aqui se produzia. Gregório de Matos, filho de senhor de engenho prejudicado por tais transformações, criticava a política econômica da metrópole e a subserviência dos governantes locais.
Por fim, note-se que a poesia satírica de Gregório de Matos colabora para compreensão do contexto daquela época e, também, dos efeitos ainda vigentes de nosso processo de colonização.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Precursor da poesia satírica. Jornal VS, São Leopoldo, p. 8, 19 out. 2021.
