O uso da linguagem, mais do que representação de ideias, é ação. Discurso é o uso da linguagem como instrumento de atuação social em situações específicas de comunicação e com determinadas intenções.
Seu sentido também tem relação com os conhecimentos de mundo dos interlocutores, constituídos culturalmente, adquiridos por experiências pessoais e projetados nessa interação. O discurso significa ao produzir efeito, ao provocar ações e reações em indivíduos em contexto comunicativo. O texto é a materialização física, o elemento concreto através do qual um discurso se apresenta. Entretanto, o discurso não é apenas o texto, é também o seu efeito.
Para ilustrar tais conceitos, pensemos em situações comuns vivenciadas entre adultos e crianças. Aos adultos, parece justo tomar todas as decisões, sem ouvi-las, até mesmo quando as convidam para participarem dessas decisões. Por vezes, diante de outras pessoas, os pais utilizam estratégias de polidez ao tentarem atenuar ou contornar conflitos com seus filhos. Em outros momentos, sem a presença de espectadores, usam de autoridade rude, até mesmo agressiva. Tais situações suscitam reflexões sobre ações que palavras querem aparentar e ações que palavras querem produzir.
Muitas vezes, as pessoas escolhem palavras e expressões precisas para agirem sobre as demais. Quando desejam que prevaleçam seus interesses, ou quando os argumentos não se sustentam, utilizam métodos de convencimento sutis ou explícitos, persuasivos ou autoritários. Discursos estabelecem relações de poder e determinam “posições” no mundo. Não há discurso imparcial ou neutro. O ser humano é o animal que pensa e discursa para influenciar e controlar seus semelhantes.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Reflexões da ordem do discurso. Jornal VS, São Leopoldo, p. 10, 10 jan. 2022.
