Na passagem do século XIX ao XX, despontaram, na Europa, movimentos de vanguarda artística e diversificadas estéticas em reação e adaptação às transformações e rupturas de valores que organizavam a sociedade. Avanços científicos e tecnológicos prenunciavam um futuro de evolução e emancipação, mas vivia-se época de exploração humana e ampliação de desigualdades sociais, condições que contradiziam os discursos progressistas e sinalizavam uma grave crise iminente. Assim, em 1914, eclodiu a primeira grande guerra mundial.
No início do século XX, o Brasil era recente nação republicana, com governo civil controlado pela elite conservadora paulista. O país almejava tornar-se moderno e urbano, mas as raízes histórico-culturais do passado colonial, monárquico e escravagista condicionavam ao subdesenvolvimento, miséria, desigualdades e injustiças sociais. Influenciadas pelas estéticas artísticas europeias, a elite e a classe média emergente promoviam a cultura burguesa. Na poesia, prestigiavam a estética parnasiana e seu padrão formalista, materialista e alheio às crises sociais, ao passo que a estética simbolista, marcada pelo individualismo e a subjetividade, tinha menor prestígio.
Nesse contexto, desponta um poeta que, em certo grau, se aproxima dos dilemas cotidianos. O crítico literário José de Nicola considera-o “um poeta único em nossa literatura. Sua poesia é a soma de todas as tendências. Augusto dos Anjos atingiu uma popularidade acima das expectativas. E o que mais aproximou o poeta da massa de leitores foi exatamente seu pessimismo, sua angústia em face de problemas e distúrbios pessoais, bem como das incertezas do novo século que despontava e trazia consigo a ideia de uma guerra mundial”.
Um século depois, permanecemos entre versos e guerras.
DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Entre versos e guerras. Jornal VS, São Leopoldo, p. 12, 28 abr. 2022.
