Infanticídio

As estrelas são bonecas que jogaram fora, contra nossa vontade. No entanto, só olhamos o céu à procura de monstros, dos mísseis que incendeiam aldeias e corpos. Acuados em Rafah, somos exterminados como ratos. Não há mais forças entre as chamas. Jamais haverá. Há mais escuridão em nossos olhos do que em um céu semContinuar lendo “Infanticídio”

Miojo literário: “Um nome para um homem só”

“Mais um chef se apresenta. Um conto ágil, cruel e irônico sobre identidade, política e outras coisas. Texto para ler e reler”. MIOJO Literário: “Um nome para um homem só”. Produção e edição de Arthur Menezes. Gravataí, 18 jun. 2025. DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Um nome para um homem só. In DAMASCENO, Elenilto Saldanha. Curta ficção.Continuar lendo “Miojo literário: “Um nome para um homem só””

Profanação

Era sua primeira vez em Paris, e era inverno. A cidade hibernal estava dominada por duas cores: tonalidades acinzentadas e aquele amarelo arenoso definido como tom “pastel”. A tarde fria e nublada recordava-lhe as solitárias tardes desbotadas e monótonas no rigor do inverno no Pampa. Caminhou uns cinco quilômetros pelo passeio público paralelo ao tambémContinuar lendo “Profanação”

Café passado

Era uma quinta-feira. Acordei, antes do nascer do sol, e fui à cozinha beber um copo d’água. Ao chegar lá, deparei-me com uma pessoa desconhecida, mas estranhamente familiar, a tomar uma xícara de café. Era um adulto jovem, perto dos trinta anos. Também se surpreendeu com a minha presença. Olhamo-nos em silêncio, por algum tempo.Continuar lendo “Café passado”

Contos no ar: “Café passado”

“Hoje, venho, aqui, fazer a leitura de um conto, e de um conto que eu vou confessar para vocês: eu tive muita dificuldade de escolher qual deles eu traria aqui para o canal. E eu estou falando, estou falando do livro “Curta ficção”, de um escritor fantástico que já esteve aqui, no nosso canal, conversando,Continuar lendo “Contos no ar: “Café passado””

Os Barbosas

A gente se conheceu no secundário, no Colégio Rui Barbosa, em 66. No ano seguinte, com as amizades consolidadas por afinidades e talentos musicais, montamos nossa banda de rock and roll, Os Barbosas. Só tocávamos Beatles. Ensaiávamos aos sábados e domingos, na residência de Xande, um casarão recentemente construído, mas ocupávamos um galpão ao fundoContinuar lendo “Os Barbosas”

Peixe vivo

Debruçado no guarda-corpo enferrujado da antiga ponte férrea que atravessava o rio, Pedro olhava para a prainha deserta ainda sem acreditar que tudo terminara. Todos os anos comemorava seu aniversário ali. Fosse dia útil ou fim de semana, fosse dia ensolarado ou chuvoso, reservava a data para o reencontro com o rio, seu companheiro desdeContinuar lendo “Peixe vivo”